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As declarações Bolsonaro e do chanceler Ernesto Araújo sobre a invasão do Congresso americano devem trazer novos obstáculos para a relação do governo brasileiro com Joe Biden. Para interlocutores dos dois países ouvidos pela Folha, as falas do presidente e do ministro devem reforçar a imagem que os democratas têm de Bolsonaro: um radical de extrema direita, imprevisível, fiel a Donald Trump e capaz de tomar decisões contrárias aos interesses do próprio país. Para o Ex-embaixador dos EUA no Brasil, Thomas Shannon as manifestações de Bolsonaro e Ernesto são lamentáveis e mostram que ambos personalizaram a relação entre Brasil e EUA, "o que é um erro". “Além do mais, eles não entendem o que está ocorrendo”.
O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) considera que Jair Bolsonaro segue a pista de Donald Trump para contestar o resultado das eleições em eventual derrota em 2022. Para ele, a diferença entre os dois é que o presidente brasileiro conta com os militares no governo e se aproxima das polícias militares. “Ele corteja as polícias militares ainda mais que o Exército”, diz. Nesse cenário, o senador considera as eleições das mesas do Senado e da Câmara dos Deputados como fundamentais para frear “ímpetos antidemocráticos” de Bolsonaro. “As instituições precisarão ser fortes, trincar os dentes” (Valor).
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), subiu o tom contra Jair Bolsonaro, mas a abertura de um processo de impeachment do presidente da República está descartada. Os pedidos já feitos, contudo, não deverão ser arquivados. Ficarão na gaveta à espera do próximo presidente da Casa. Até o final da semana passada, já haviam sido protocolados em torno de 60 pedidos. Se Maia decidisse abrir um processo nos últimos dias à frente da Câmara, seu sucessor teria de, obrigatoriamente, levar o caso adiante a partir de fevereiro, quando os trabalhos do Legislativo serão retomados (Folha).
Rodrigo Maia disse a aliados que não vai abrir nem arquivar nenhum processo. Além de entender que não há ambiente político, o atual presidente da Câmara não quer dar espaço para que apontem oportunismo de sua parte às vésperas de voltar à planície do plenário. O deputado não vê espaço para arquivar os pedidos, medida que o tornaria ainda mais alvo dos críticos que insistem que ele tome uma medida mais dura contra Bolsonaro. A conduta destoa, por exemplo, de medidas do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que arquivou todos os 38 pedidos de impeachment de ministros do STF e do procurador-geral da República, Augusto Aras (Folha).
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), cobrou de Baleia Rossi (MDB-SP), sobre declaração que deu sobre eventual processo de impeachment de Jair Bolsonaro. O PT integra o bloco de 11 partidos de centro, centro-direita e de esquerda de apoio ao emedebista. Baleia Rossi havia dito que “não há nenhum compromisso, como muitos falam, de abertura de impeachment”. Em resposta, Gleisi escreveu em rede social que “dar resposta a crimes do Executivo” faz parte do compromisso do emedebista com a oposição. Baleia Rossi ligou para ela em seguida. Segundo interlocutores, Gleisi frisou a importância de dar uma resposta para a base do partido, que havia ficado insatisfeita com a declaração. O assunto foi dado como encerrado (O Globo – p.5).
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tem exonerado servidores em cargos comissionados indicados por parlamentares do bloco de Arthur Lira (PP-AL), candidato a presidente na eleição que deve ocorrer no início de fevereiro. Os cargos são parte importante da negociação pela Mesa Diretora nas eleições da Câmara. Há hoje em torno de 1.700 cargos de natureza especial distribuídos entre ocupantes da Mesa Diretora e partidos políticos. De acordo com parlamentares, dessa quantia, o presidente tem direito a cerca de 200 cargos de livre nomeação, que às vezes cede a aliados (O Globo – p.5).
Primeira mulher a exercer a presidência da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, Simone Tebet (MDB-MS) concorre com outros três colegas do partido (Eduardo Gomes/TO, Fernando Bezerra Coelho/PE e Eduardo Braga/AM) ao cargo de presidente da Casa. Se eleita, Tebet será também a primeira mulher a dirigir o Congresso. Sobre a demora do MDB em apontar o candidato escolhido para o pleito, a senadora relata que o partido reúne pensamentos plurais, mas busca construir o consenso. “O Senado sempre teve o seu tempo e, diferentemente da Câmara dos Deputados, o processo está apenas começando”, disse (Correio – p.3).
Uma das pautas mais polêmicas da Câmara caiu no colo do líder do PP, Arthur Lira (AL), no primeiro dia de seu roteiro de viagens em campanha pela presidência da Casa: os deputados do Pará cobraram a votação do projeto que atualiza os critérios de distribuição dos representantes dos estados. Segundo a Justiça Eleitoral, a bancada paraense e a de outros quatro estados, está defasada em relação à população estadual desde o Censo de 2010, enquanto outras oito unidades da federação estariam com vagas excedentes. Entre elas, o Rio de Janeiro, do presidente Rodrigo Maia (DEM), e Alagoas, do próprio Lira (Valor).
A pressão de Jair Bolsonaro para instituir o voto impresso não encontra eco hoje nem entre aliados. Membros da articulação política também avaliam que há temas mais urgentes. Líderes partidários, porém, temem que a questão possa crescer e começar a ganhar peso em meio a um debate pré-eleitoral polarizado. A definição sobre quem será o próximo presidente da Câmara é crucial. Arthur Lira (PP-AL), apoiado pelo governo na disputa, tem prometido respeitar a vontade da maioria dos partidos no grupo dos líderes. “Eu sou contra o voto impresso, mas toda pauta com algum apelo na sociedade será debatida no colegiado de líderes”, disse Marcelo Ramos (PL-AM), vice de Lira (Coluna do Estadão – p.A4).
Baleia Rossi (MDB-SP), nome de Rodrigo Maia (DEM-RJ) na disputa, disse ser contrário à discussão do voto impresso em meio ao clima de desconfiança do sistema eleitoral. A PEC do voto impresso foi aprovada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) em dezembro de 2019. O próximo passo seria instalar uma comissão especial, o que depende do presidente da Casa. “Contei até com voto de deputado do PT na comissão. É uma pauta do Bolsonaro, mas não é exclusivamente dele. É suprapartidária”, disse a autora da proposta, deputada Bia Kicis (PSL-DF) - Coluna do Estadão – p.A4.
O ex-ministro da Secretaria de Governo Carlos Alberto dos Santos Cruz, general de reserva, afirmou que o presidente Jair Bolsonaro age com irresponsabilidade ao questionar a legitimidade da urna eletrônica e o resultado das eleições sem apresentar provas de suas acusações, e deveria responder judicialmente por seus atos. No entanto, o general defende a implantação do voto impresso para esvaziar o discurso radical contra o sistema eleitoral. “Essa conversa de que se não colocar o voto impresso em 2022, vai acontecer coisa pior que nos Estados Unidos é falta de responsabilidade”, diz Santos Cruz (Valor).
Ex-ministro de Bolsonaro, o general afirma que o presidente “tem que apresentar as provas de suas acusações, ou responder processo por desacreditar as instituições”. Santos Cruz saiu do governo ainda em 2019, depois de se desentender com o núcleo do governo adepto de Olavo de Carvalho. Mas Santos Cruz coloca-se ao lado de Bolsonaro na defesa de uma tecnologia que permita a impressão do voto. “Eu sou a favor do voto impresso porque aperfeiçoa o sistema”, diz o general. “Ao mesmo tempo, tira dos aventureiros o discurso demagógico” (Valor).
O Congresso se prepara para votar dois projetos de lei orgânica das polícias civil e militar que restringem o poder de governadores sobre braços armados dos Estados e do Distrito Federal. As propostas trazem mudanças na estrutura das polícias, como a criação da patente de general, hoje exclusiva das Forças Armadas, para PMS, e de um Conselho Nacional de Polícia Civil ligado à União. O novo modelo é defendido por aliados do governo no momento em que o presidente Jair Bolsonaro endurece o discurso da segurança pública para alavancar sua popularidade na segunda metade do mandato (Estadão – p.A4).
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