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A mudança de comando nos Estados Unidos, a partir de janeiro, a promessa de uma vacinação em larga escala contra a covid-19 e a expectativa de avanço de reformas no Brasil têm retirado parte da tensão e feito os investidores voltarem os olhos novamente para emergentes, como o Brasil. Como reflexo disso, o dólar, que chegou a ficar perto dos R$ 6, passou a registrar quedas e agora se acomoda em um patamar mais próximo de R$ 5. Na última semana, o dólar fechou em seu menor patamar desde junho. Apesar disso, no ano a divisa ainda acumula uma alta de 25,8% e está em um patamar acima do previsto pelo ministro da Economia, Paulo Guedes (Estadão – p.B7).
Na avaliação de Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central, o movimento recente do dólar tem sido influenciado tanto por fatores externos quanto domésticos. Nos EUA, a eleição do democrata Joe Biden sinaliza maior estabilidade internacional, sobretudo na relação com a China. E o começo da vacinação reduz as incertezas que a pandemia da covid-19 trouxe. Internamente, o que vai ser determinante é a questão fiscal. “Com o cenário internacional esperado e com a sinalização por parte do governo de que o lado fiscal será controlado, o dólar pode ficar no patamar atual”, diz. Economistas dizem que são boas as chances de que a moeda permanece nesse patamar mais baixo (Estadão – p.B7).
O custo de carregamento das reservas internacionais deve fechar 2020 no patamar mais baixo desde 2013, influenciado pela menor diferença entre a taxa básica de juros do Brasil e a dos EUA. De 2016 até 2020, a diferença entre a taxa brasileira e a americana passou de aproximadamente 14 pontos percentuais para 2 pontos. Com isso, o custo de carregamento caiu de R$ 183 bilhões em 2015 para R$ 72 bilhões de janeiro a novembro deste ano, segundo dados do Banco Central. A última vez em que essas despesas terminaram um ano completo em patamar inferior ao atual foi em 2013, quando ficaram em R$ 61,4 bilhões. Desde 2014, têm ficado em todos os anos acima de R$ 80 bilhões (Valor).
A massa salarial dos brasileiros — que inclui os rendimentos do trabalho e benefícios sociais e da Previdência — pode encolher 5,3% em 2021 sobre este ano. Será efeito principalmente da retirada do auxílio emergencial e outros benefícios financeiros adotados pelo governo no período de pandemia em 2020. Na ponta, isso deverá se traduzir em queda no consumo, impactando o comércio. “Com a saída do auxílio emergencial e dos benefícios às empresas na complementação de salários, virá pressão sobre o mercado de trabalho, deverá haver uma queda de 5,3% na massa de rendimento das famílias em 2021. E isso afeta diretamente o consumo”, diz Luana Miranda, economista do Ibre/FGV (O Globo – p.17).
Em 2020, o rendimento das famílias cresceu 3% em relação a 2019, expansão garantida pelas medidas de socorro financeiro do governo em meio à pandemia. Sem elas, o cenário teria sido de retração de 6,1% na massa de rendimentos. As iniciativas, sublinha Miranda, foram bem-sucedidas, mas poderiam ter sido melhor ajustadas. “Foi uma situação difícil, com um grande contingente de informais a socorrer. Mas especialistas concordam que o valor do benefício foi alto, enquanto o filtro para conceder o auxílio foi falho, em meio a limitações fiscais. Poderia ter sido mais eficiente e duradouro”, avalia a economista (O Globo – p.17).
No ano que vem, além de perder esse impulso, há outros fatores pressionando a renda das famílias. Um deles é o desemprego, que chegou ao patamar recorde de 14,6% no trimestre terminado em setembro, atingindo 14,1 milhões de pessoas, e deve crescer mais. O outro é a inflação que ficou em 0,89% em novembro, acumulando alta de 4,31% em 12 meses. A variação de alimentos e bebidas beira os 16% em 12 meses, com efeito direto na renda dos mais pobres. Quando foi implementado a R$ 600, em abril, o auxílio impulsionou o consumo, acelerando a retomada do varejo e da indústria. No quarto trimestre, porém, após a redução do benefício emergencial pela metade, os dois setores desaceleraram (O Globo –p.17).
O Congresso dá início a uma maratona de discussões e votações, já que muitos projetos prioritários ainda estão em aberto para deliberação, antes do recesso parlamentar que se inicia no dia 23. O intuito dos parlamentares é concluir os trabalhos nesta semana. Mas, para isso, será preciso aprovar, pelo menos, a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). A LDO deveria ter sido aprovada no primeiro semestre, pois fixa as diretrizes para o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA). Porém, não avançou, neste ano, porque a pandemia da covid-19 e a disputa pela Presidência da Câmara impediram a instalação da Comissão Mista de Orçamento (CMO) – Correio – p.2.
O projeto da LDO será levado diretamente para o plenário na quarta-feira. A ideia é que os deputados analisem a matéria pela manhã e os senadores, à tarde, pois, sem LDO, o governo não poderá gastar nada no início de 2021. O risco de shutdown já foi admitido, inclusive, pelo secretário do Tesouro Nacional, Bruno Funchal, que reconheceu a analistas do mercado não saber como faria para pagar as despesas correntes e os salários do funcionalismo em janeiro se não tivesse LDO nem Orçamento. Por isso, mobilizou o Congresso. Parlamentares chegaram a apresentar cerca de 300 emendas ao projeto, mas já falam em uma votação mais protocolar dada a urgência da situação (Correio – p.2).
O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), reforçou que "está tranquilo" quanto à LDO. Por isso, o ministro da Economia, Paulo Guedes, já decidiu até sair de férias no dia 18. O Orçamento só deve ser votado em 2021. Por isso, a LDO é premente, porque é ela que dá permissão para o governo gastar um 12 avos da proposta orçamentária em janeiro. Sem isso, o governo não vai poder executar nenhum centavo. "Os parlamentares não têm interesse nessa paralisia", explicou o fundador e secretário-geral da Associação Contas Abertas, Gil Castello Branco. Diretor-executivo da Instituição Fiscal Independente do Senado (IFI), Felipe Salto também prevê uma votação célere (Correio – p.2).
Com o adiamento da apresentação do relatório das Propostas de Emenda à Constituição do ajuste fiscal para o ano que vem, a equipe econômica acredita ter uma chance para reintegrar ao texto do relator, senador Márcio Bittar (MDB-AC), pontos que seriam retirados para possibilitar a aprovação da matéria ainda neste ano. “Acredito que a situação externa (referindo-se ao mercado, recrudescimento da pandemia) vai pressionar por algo mais radical. Dois meses são importantes pois muita coisa vai acontecer”, informou um interlocutor da área econômico. “Melhor abortar e começar tudo de novo sob nova gestão. Estava ficando perigoso”, disse outro técnico da área econômica (Valor).
Uma fonte da área econômica afirmou que o adiamento acabou se tornando uma “boa sinalização” porque o relatório que seria apresentado teria pouco efeito para ajudar no cumprimento do teto de gastos. Na sexta-feira, após várias promessas de apresentação de relatório mais enxuto do que o que o governo gostaria e uma minuta vazada, Bittar decidiu apresentar seu relatório para os três textos em fevereiro, após a eleição dos comandos da Câmara e do Senado. “Eu espero que em fevereiro a gente consiga apresentar uma coisa melhor, mais robusta. Eu espero que lá em fevereiro existam melhores condições para um relatório mais robusto”, disse Bittar por meio de nota na sexta-feira (Valor).
Nos últimos dez anos, a União injetou R$ 182 bilhões em aportes de capital nas empresas públicas não dependentes ou em subvenções do Tesouro nas estatais dependentes. O dado foi levantado pela Secretaria Especial de Desestatização do Ministério da Economia, a pedido do Valor, e abrange o período de 2011 a 2020. Estatais dependentes são aquelas com repasses financeiros do ente controlador para o pagamento de despesas com pessoal, de custeio em geral ou de capital - excluindo recursos provenientes do aumento de participação acionária. Elas levaram R$ 146,5 bilhões da União nesses dez anos.
Algumas das companhias que mais receberam recursos dos cofres públicos no período foram a Embrapa, que faz pesquisa agropecuária (R$ 29,4 bilhões); Valec, responsável pela construção de novas ferrovias (R$ 15,4 bilhões); a Conab, encarregada de gerir estoques públicos de alimentos (R$ 14,1 bilhões); a Infraero, operadora de aeroportos (R$ 13,7 bilhões); a Codevasf, que promove o desenvolvimento e a revitalização das bacias hidrográficas do São Francisco e do Parnaíba (R$ 9,5 bilhões); a CBTU, que administra trens de passageiros em quatro capitais do Nordeste e em Belo Horizonte (R$ 9,4 bilhões) - Valor.
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