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A menos de um mês do fim dos trabalhos no Legislativo, a pauta econômica deve continuar em marcha lenta neste período pós-eleições. Segundo líderes ouvidos pelo Globo, a agenda da primeira sessão na Câmara depois do segundo turno – marcada para manhã – deve se concentrar em apenas dois projetos: a medida provisória que criou o programa Casa Verde e Amarela e o projeto de lei que aumenta a concorrência na chamada cabotagem. O líder do governo no Congresso, senador Eduardo Braga (MDB-TO), diz que vai trabalhar para aprovar a PEC emergencial, mas admite que as reformas tributária e administrativa só avançarão em 2021 (O Globo – p. 24).
O presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), acredita ter apoio suficiente para aprovar o projeto de reforma tributária na Casa. Segundo ele, já existem pelo menos 320 votos favoráveis à Proposta de Emenda à Constituição 45, mesmo sem contar com a ajuda dos partidos da base do governo (Estadão – p.B3). Rodrigo Maia cobrou do governo posição mais clara sobre as pautas econômicas a serem discutidas até o fim do ano, enfatizando a urgência da reforma tributária. Disse que o Executivo errou ao não tratar desses temas durante o período eleitoral e ao não retomá-los agora, depois do segundo turno (Folha).
Após o alerta do TCU sobre a ilegalidade de uma meta flexível para as contas públicas, a equipe econômica vai definir uma meta fixa de resultado primário para 2021, como exige a Lei de Responsabilidade Fiscal. O TCU já avisou que o presidente Jair Bolsonaro poderá cometer crime de responsabilidade se não definir uma meta para o rombo nas contas públicas no ano que vem, antes do pagamento dos juros da dívida. A meta de primário é o resultado das contas a ser perseguido pela equipe econômica e reflete a diferença entre receitas e despesas. Desde 2014, o Brasil tem déficit nas suas contas porque gasta mais do que arrecada (Estadão – p.B4).
Fontes da equipe econômica afirmam que há o desejo de rever a meta que está hoje na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para adequar ao alerta do TCU. A avaliação é que a regra fiscal adicional vai contribuir inclusive para blindar o governo de novas investidas por medidas que possam comprometer as contas em 2021. O teto de gastos, por exemplo, não atinge desonerações tributárias. Em caso de meta flexível, o governo ficaria sem uma de suas linhas de defesa para barrar esse tipo de pressão. Por isso, a fixação de uma meta como manda a LRF ajudaria inclusive no ajuste fiscal (Estadão – p.B4).
O jogo político em torno das reformas constitucionais (PECs emergencial e do pacto federativo, além da reforma tributária) e do novo programa social por enquanto está travado e dificilmente terá algum avanço relevante neste ano, avaliam fontes da equipe econômica. A leitura é que, para esses temas andarem, depende-se da evolução dos acordos políticos em torno da sucessão à presidência da Câmara. Nesse ambiente, a prioridade maior é resolver problemas de curto prazo, como a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), sem a qual há risco de paralisação da máquina (“shutdown”), e tentar avançar nos projetos como lei do gás, cabotagem e autonomia do BC, dando sinais mais amigáveis aos investimentos (Valor).
Ontem, o presidente Jair Bolsonaro voltou a ameaçar com cartão vermelho quem falar sobre o Renda Brasil. A despeito do tom, o movimento presidencial foi bem visto na área econômica porque foi interpretado como respaldo dele ao teto de gastos, ainda que essa fala signifique também a manutenção de um clima mais inóspito a medidas como desindexação e redirecionamento de gastos sociais considerados de baixa qualidade, como o abono salarial. Manter as despesas do próximo ano dentro dos limites do teto ainda é um dos principais objetivos da equipe econômica, como forma de sinalizar que há compromisso com a responsabilidade fiscal e com o controle do endividamento (Valor).
Integrante do governo até há poucos meses, o economista Mansueto Almeida costumava ser apontado como o “bombeiro” do ajuste pela habilidade de apagar incêndios a cada tentativa de aumento de gasto, subsídios e incentivos fiscais. Fora da equipe econômica, mas observador atento das contas públicas, o ex-secretário do Tesouro alerta que o país precisa começar já um debate sobre a revisão das renúncias fiscais para não haver aumento de impostos mais à frente. Mansueto compara a revisão das renúncias ao movimento que ocorreu no passado recente e que permitiu a redução dos subsídios, via bancos públicos, e a aprovação da reforma da Previdência (Entrevista ao Estadão – p.B4).
A Agência Nacional de Energia Elétrica aprovou ontem a retomada do sistema de bandeiras tarifárias na conta de luz a partir de hoje, 1º de dezembro. O mecanismo havia sido suspenso em maio por causa da pandemia do novo coronavírus, e a agência havia acionado a bandeira verde, sem cobrança de taxa extra, até o fim deste ano. A Aneel, no entanto, informou que as condições atuais não permitem mais manter a bandeira verde acionada. Por isso, a partir hoje, as tarifas terão bandeira vermelha em seu segundo patamar, com uma taxa extra de R$ 6,243 a cada 100 kwh (Estadão – p.B5).
A produção de urânio da Indústrias Nucleares do Brasil (INB) será retomada hoje, na unidade de extração e concentração do minério em Caetité (BA). Há cinco anos, a estatal havia interrompido a produção devido à “exaustão” da Mina da Cachoeira. Os trabalhos serão retomados na Mina do Engenho, após licença técnica da Comissão Nacional de Energia Nuclear e ambiental do Ibama. Em entrevista ao Valor, o presidente da estatal INB, Carlos Freire Moreira, informou que o Brasil recorre à importação urânio do Canadá, Japão e Cazaquistão para atender à demanda nacional, apesar do domínio de grande parte da tecnologia de enriquecimento empregada no uso civil e contar com a sétima maior reserva mundial.
Com o fim das eleições municipais, governo e Congresso entraram na reta final do calendário legislativo dando prioridade nas discussões a propostas originadas fora do Ministério da Economia. Enquanto isso, as reformas gestadas pela pasta continuam sem data para deliberação. O movimento mostra como a agenda do ministro Paulo Guedes segue em compasso de espera mesmo após o término dos pleitos regionais, mencionados como um dos principais entraves para se debater a pauta econômica nos últimos meses. Duas propostas do Executivo têm previsão de votação nesta semana na Câmara (Folha).
Uma delas é do programa habitacional lançado em agosto pelo ministro Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional. O outro texto com votação prevista para esta semana é o da BR do Mar, que muda regras para navegação no país. Apesar de levar a assinatura de Guedes (que também o defende), o texto foi criado originalmente pelo Ministério da Infraestrutura, de Tarcísio de Freitas, sendo depois discutido com outras pastas. O projeto da BR do Mar foi alvo de pedido de urgência pelo governo. A medida tranca outros projetos caso não seja deliberado em 45 dias após a requisição. Mesmo alvo de controvérsias, o Executivo decidiu manter o regime (Folha).
O rombo nominal nas contas públicas - quando é incluído o pagamento de juros da dívida - superou a marca de R$ 1 trilhão no acumulado dos 12 meses pela primeira vez na história. Os dados foram divulgados ontem pelo Banco Central. No período, o resultado primário (que não considera os encargos da dívida) foi negativo em R$ 661,8 bilhões, o equivalente a 9,13% do PIB. No acumulado do ano, o rombo foi de R$ 633 bilhões. No mês de outubro, no entanto, o governo registrou superávit pela primeira vez desde janeiro, com R$ 2,9 bilhões (Folha).
Desde o início da crise sanitária, além de gastar mais, o governo tem arrecadado menos em razão da queda da atividade e das medidas de restrição, o que também contribui para o aumento no rombo das contas públicas. Com a flexibilização do isolamento, no entanto, a arrecadação aumentou e alguns impostos que foram postergados por causa da pandemia começaram a ser pagos. "A razão para o recorde no resultado nominal é, quase que exclusivamente, a evolução do déficit primário. Essa evolução já estava bastante clara e era previsível que o nível de R$ 1 tri fosse ultrapassado", afirmou Fernando Rocha, chefe do Departamento de Estatísticas do BC (Folha).
Em seu primeiro plano de negócios após a eclosão da pandemia, a Petrobras pretende intensificar ainda mais o seu programa de desinvestimentos nos próximos anos. Mais aberta à venda de grandes concessões na Bacia de Campos, a companhia espera levantar entre US$ 25 bilhões e US$ 35 bilhões até 2025 com a alienação de ativos, ante a projeção do plano anterior, de US$ 20 bilhões a US$ 30 bilhões entre 2020 e 2024. Os desinvestimentos são parte importante do movimento de desalavancagem da empresa. A diretora financeira da Petrobras, Andrea Almeida, disse ontem que a companhia espera, até 2022, focar na redução da dívida bruta - dos US$ 79 bilhões de setembro para US$ 60 bilhões em 2022 (Valor).
O governo Bolsonaro procura brecha na lei, para limitar a participação da Huawei, fabricante chinesa de equipamentos de telecomunicações, na implementação da rede 5G. Sem citar a Huawei, a ideia é estabelecer requisitos na regulamentação de instrução normativa do Gabinete de Segurança Institucional, sobre diretrizes de segurança cibernética na construção de redes, de modo a barrar na prática os chineses no 5G. Embora haja inclinação para concretizar a iniciativa, a avaliação é que o governo precisará fazer um “contorcionismo jurídico” para achar justificativa para limitar o livre mercado, pois faltam dispositivos legais que apoiem veto antecipado a qualquer empresa (Estadão – p.B1).
O ex-ministro da Justiça Sérgio Moro disse ontem não haver conflito de interesses em seu novo cargo como sócio-diretor da consultoria americana Alvarez & Marsal. A empresa atua no processo de recuperação da Odebrecht – empreiteira que fechou acordo de leniência com a Lava-Jato e viu 77 de seus executivos fecharam acordo de delação premiada, entre eles o patriarca Emílio Odebrecht e seu filho Marcelo Odebrecht, que foi condenado por Moro em diferentes ações penais. A contratação do ex-juiz da Lava Jato – que deixou o governo de Jair Bolsonaro em abril – foi anunciada pela empresa. Moro vai atuar na área de Disputas e Investigações, com base na sede da empresa em São Paulo (Estadão – p.A7).
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