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No dia seguinte às eleições municipais, o presidente Jair Bolsonaro voltou a questionar o sistema eleitoral do país e levantou dúvidas sobre o resultado das urnas. O presidente deu a declaração sobre o pleito ao conversar com um grupo de seguidores em frente ao Palácio da Alvorada. "Nós temos que ter um sistema de apuração que não deixe dúvidas. É só isso. Tem que ser confiável e rápido. Não deixar margem para suposições. Agora temos um sistema que desconheço no mundo onde ele seja utilizado. Só isso e mais nada", disse. “Se nós não tivermos uma forma confiável de apurar as eleições, a dúvida sempre vai permanecer" (Folha).
Mais cedo, o vice-presidente Hamilton Mourão, em mais uma declaração que vai de encontro ao discurso de Bolsonaro, afirmou que o processo eleitoral brasileiro é “muito bom, sem dúvida nenhuma”. Em setembro deste ano, o Supremo Tribunal Federal decidiu que é inconstitucional a adoção do voto impresso, ao concluir que a medida viola o sigilo e a liberdade do voto. Ainda assim, Bolsonaro insiste na tese de que a votação eletrônica é passível de fraude, o que é descartado pelo Tribunal Superior Eleitoral. Ao todo, contando com o Brasil, 46 países utilizam algum tipo de votação eletrônica em eleições, considerando pleitos de caráter nacional, regional, ou para escolha de dirigentes sindicais (Estadão – p.A4).
O presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, apresentou nova versão sobre os atrasos na divulgação do resultado das eleições municipais, minimizou os problemas e não garantiu que o segundo turno, no próximo dia 29, será livre de falhas. A votação de domingo foi marcada por panes técnicas, que incluíram instabilidades em aplicativo do TSE e uma demora inédita para que se soubesse a totalização de votos das urnas eletrônicas. Barroso afirmou que a demora na entrega de equipamentos por parte da empresa Oracle, em razão da pandemia da Covid-19, impediu a realização de testes prévios no sistema (Folha).
A rejeição ao presidente Jair Bolsonaro deve levar ao ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) “apoios críticos” de integrantes dos principais partidos no segundo turno da disputa no Rio de Janeiro. O atual prefeito, Marcelo Crivella (Republicanos), não conseguiu sequer o apoio do vice-líder do governo Bolsonaro na Câmara, Luiz Lima (PSL), que declarou neutralidade. Crivella e deve seguir apenas com o endosso do presidente. Uma das principais lideranças de esquerda da cidade, o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL) defendeu o “voto crítico” em Paes a fim de impedir uma vitória de Bolsonaro na cidade. O PSOL ainda vai definir sua posição oficial (Folha).
Marcelo Freixo disse que “Eduardo Paes não deixa de ser quem ele é, nem a gente muda de opinião sobre ele. Mas é muito importante derrotar o Crivella”. Para ele, existe um sentimento na sociedade de que o Rio nunca passou por uma situação tão grave e tem responsável por isso. “Não se trata de criar ilusão sobre Eduardo Paes, mas de ter a certeza do que representa o Crivella”, disse Freixo. O presidente regional do PSB, deputado Alessandro Molon, afirmou que “é impossível” um apoio a Crivella. “Não vejo nenhuma hipótese do PSB apoiar o candidato do Bolsonaro”, afirmou Molon (Folha).
Em seu primeiro teste como cabo-eleitoral, Jair Bolsolnaro teve resultado bem abaixo das expectativas de seus aliados. Dos 59 nomes que referendou pessoalmente em suas "lives eleitorais gratuitas", só 13 se elegeram, como dois prefeitos de cidades interioranas, Mão Santa (DEM), em Parnaíba/PI, e Gustavo Nunes (PSL), em Ipatinga/MG. Os principais nomes bancados por Bolsonaro foram Celso Russomanno (Republicanos), em São Paulo, Marcelo Crivella (Republicanos), no Rio, e Bruno Engler (PRTB), em Belo Horizonte. Desses, só Crivella conseguiu ir para o segundo turno. Outro nome apoiado por Bolsonaro, Capitão Wagner (Pros), enfrentará um difícil segundo turno em Fortaleza (Folha).
A ala ideológica no governo e no Congresso reage ao resultado das eleições e vai tentar convencer o presidente a retomar as bandeiras que o elegeram em 2018. Expoentes desse grupo foram a público expor a derrota do bolsonarismo, defendendo a importância da “política real”, com um partido de direita e conservador. Bolsonaristas hoje filiados ao PSL vão tentar reimpulsionar a criação do Aliança pelo Brasil. A avaliação dos chamados ideológicos vai na contramão das conclusões a que chegaram ministros militares e membros da ala política da Esplanada. Estes relutam em admitir derrota e defendem que Bolsonaro adote uma postura “de centro” e se afaste do “radicalismo” para chegar forte a 2022 (Valor).
A cidade gaúcha Nova Pádua ficou conhecida nas últimas eleições presidenciais como o município mais bolsonarista do país - foi ali o maior índice de votos do presidente Jair Bolsonaro no segundo turno, de 92,96%. Na eleição municipal, o “pequeno paraíso italiano”, bordão da cidade em referência aos primeiros moradores da região, manteve-se conservadora e alinhada à direita. Prefeito e cinco dos nove vereadores eleitos são do Progressistas (PP). As demais cadeiras ficaram com PSDB, MDB e Republicanos. Não houve eleição de representantes de partidos como PT e PSOL. Chama atenção no município uma articulação de candidatos jovens, que já garantiram espaço significativo na administração pública (Valor).
Fortalecido com o sucesso no primeiro turno das eleições municipais, o Centrão se tornou ainda mais importante para o presidente Jair Bolsonaro, cujos candidatos que declarou apoio tiveram baixo desempenho nas urnas. Partidos do bloco, como o PP, PSD, PTB, PL e Republicanos, acabam de eleger mais de 2 mil prefeitos. A partir de agora, além da sustentação dada ao governo no Congresso, o Centrão assumirá o controle de muitos municípios que podem servir de palanque para a campanha de Bolsonaro à reeleição, em 2022. Esse cenário pode abrir espaço à frente partidária cobrar ainda mais espaço no governo, pressionando, inclusive, por uma reforma ministerial (Correio – p.3).
Apesar de ter perdido 270 prefeituras em todo o país na comparação com a eleição passada - de 1.044 prefeitos eleitos em 2016 para 774 até agora -, o MDB continua sendo o partido com o maior número de prefeitos em todo o Brasil. O domínio é garantido graças a sua liderança isolada no numeroso grupo dos micromunicípios, 3.028 localidades com menos de 10 mil eleitores, áreas muitas vezes tratadas depreciativamente no meio político como “grotões”. O MDB também recebeu o maior número de votos para prefeito em todo o país, 10,9 milhões. Mas esse número indica queda de 30% em relação à votação de quatro anos atrás (Valor).
Em número de votos, o MDB praticamente empatou com o PSDB na eleição de domingo. O PSDB também teve queda significativa, de 41% em votos. Os partidos que mais avançaram foram PSD, DEM e o PP. O PT ficou estável, com 7 milhões de votos. No conjunto dos municípios muito pequenos e majoritariamente interioranos, o MDB colheu 450 vitórias no último domingo, 56 a mais do que o segundo colocado, o PP. Na sequência aparecem o PSD, com 336 microvitórias; o DEM, com 268 prefeitos eleitos nesse universo; o PSDB, com 282; e o PL, com 185. Todos os outros partidos juntos elegeram 1.112 prefeitos nos micromunicípios (Valor).
Dois anos após uma eleição geral marcada pelo discurso antissistema – que ajudou a eleger não apenas o presidente Jair Bolsonaro, mas consolidou um campo político associado à extrema-direita também nos estados e no Congresso, a votação em primeiro turno das eleições municipais indicou que esse movimento se arrefeceu. Além de eleger ou levar para o segundo turno mais representantes de centro do que dos extremos, ao menos nas capitais, o resultado da votação sob o impacto da pandemia do novo coronavírus ainda revelou uma preferência por nomes conhecidos da política convencional (Estadão – p.A4).
O embate no ninho da família mais tradicional da vida política pernambucana, que divide o eleitorado do campo mais alinhado à esquerda em Recife, ganha um novo contorno no segundo turno entre os primos João Campos (PSB) e Marília Arraes (PT). Os dois, que tiveram 29,17% e 27,95% dos votos respectivamente, disputam a fatia de 42% do eleitorado que votou em candidatos do campo conservador. Algumas estratégias de alianças estão sendo traçadas. Juntos, o ex-ministro da Educação Mendonça Filho (DEM) e a delegada Patrícia Domingos (Podemos), apoiada por Jair Bolsonaro, tiveram 39% dos votos. Os dois já declararam publicamente que vão ficar neutros neste segundo turno (Folha).
Além de eleger o vice-prefeito Bruno Reis em Salvador com a maior votação dentre as capitais brasileiras, o DEM ganhou as eleições em 9 das 30 maiores cidades da Bahia, consolidando seu melhor desempenho no estado desde 2004. Ao todo, o partido saiu das urnas com 37 prefeituras no estado e governará, nos municípios, cerca de 30% da população baiana a partir de 2021. O bom desempenho nas cidades grandes e médias da Bahia promete acirrar a disputa pelo governo estadual em 2022. Com o fim do ciclo de oito anos do governador Rui Costa (PT), a eleição majoritária deve colocar em lados opostos o prefeito ACM Neto (DEM) e o senador Jaques Wagner (PT) - Folha.
Na eleição suplementar para o Senado em Mato Grosso, o atual senador interino Carlos Fávaro (PSD) venceu a disputa com 25,97% dos votos válidos. Permanecerá no cargo até 2026. A votação ocorre no mesmo dia em que os eleitores escolhem prefeito e vereadores em suas cidades. A eleição suplementar ao Senado foi marcada para preencher uma vaga de Mato Grosso no Senado, após a cassação da então senadora Juíza Selma Arruda (Pode-MT), por caixa dois e abuso de poder econômico. Fávaro aproveitou bem o mandato tampão desde fevereiro para massificar o seu nome e suas ações, além de ter o apoio do governador Mauro Mendes (DEM) e do ex-ministro da Agricultura, Blairo Maggi (PP) – Folha.
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