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Dados divulgados pela B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, mostram que, de janeiro até 29 de setembro, investidores estrangeiros retiraram R$ 88,2 bilhões do país. O valor, em apenas nove meses, é o dobro do registrado em todo o ano passado (R$ 44,5 bilhões). Entradas e saídas de capital estrangeiro oscilam de acordo com o noticiário sobre avanços na busca de uma vacina contra a covid-19 e medidas mais duras anunciadas por alguns governos para conter uma segunda onda da pandemia, além de fatores como as turbulências provocadas pelas eleições nos EUA. Também entram na conta o crescimento do risco fiscal do Brasil, ruídos do governo e a imagem desgastada da política ambiental do país (Estadão – p.B4).
Como efeito dessa saída de dinheiro, as empresas que estavam buscando recursos em ofertas iniciais de ações (IPOs) deverão enfrentar maiores dificuldades. Para analistas, porém, a Bolsa brasileira continua sendo atraente por oferecer ativos baratos. Apenas em setembro foi registrado saldo negativo de R$ 2,89 bilhões. No acumulado do terceiro trimestre, faltando os dados de apenas um pregão para o encerramento do período, as retiradas somam quase R$ 12 bilhões. Esses volumes são referentes aos recursos do mercado secundário da Bolsa, no qual investidores colocam dinheiro em empresas que já têm capital aberto no país (Estadão – p.B1).
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que os juros voltarão a subir se o governo abrir mão do que chamou de arcabouço vigente. As declarações foram feitas em evento do banco JPMorgan. A fala foi interpretada como um alerta contra o uso de precatórios –dívida da União reconhecida pela Justiça– e de parte do fundo da educação (Fundeb) no financiamento do Renda Cidadã ou qualquer outra manobra que, na prática, signifique o estouro do teto de gastos ou o aumento de dívida. A regra limita o aumento das despesas à inflação do ano anterior (Folha).
Em uma sessão de perguntas e respostas, Campos Netto explicou que a manutenção do teto seria muito importante para a preservação do atual regime fiscal. Segundo participantes do evento, o presidente do BC afirmou ainda que qualquer solução criativa seria interpretada como estouro do teto. Nesse impasse em torno de onde cortar despesas para viabilizar o Renda Cidadã, a equipe econômica propôs ao governo e à ala política uma trégua até as eleições. O Renda Cidadã deve substituir o Bolsa Família. Ontem, o vice-presidente Hamilton Mourão disse que a única maneira de lançar um programa social robusto é ou por meio do corte de gastos ou pela criação de novo imposto (Folha).
A repercussão negativa no mercado e na classe política da proposta de financiamento do Renda Cidadã, com recursos de precatórios e com uma parcela do Fundeb fez o governo desistir da ideia. Ontem, o vice-presidente Hamilton Mourão admitiu que “esse assunto já virou a página, já acabou” e que o governo “voltou atrás e, provavelmente, não vai usar” nenhuma das duas fontes de recursos para bancar o novo projeto social. A equipe do presidente Jair Bolsonaro e os parlamentares envolvidos na formulação da proposta consideram a possibilidade de só conseguirem bater o martelo sobre as fontes para o programa após as eleições municipais de novembro (Correio – p.2).
As declarações do governo nesta semana, que cogitaram o adiamento de pagamento de precatórios federais para destinar os recursos a programas assistenciais, acertaram em cheio os negócios com esses títulos no mercado secundário. “Hoje não tem nível de preço para negociar. O que se vê é que o risco aumentou, o desconto que o investidor vai pedir para ficar com esse papel vai subir, mas não se sabe até quanto. Ficou impossível precificar os riscos”, resume um investidor do segmento. O precatório é uma espécie de ordem de pagamento, líquida e certa, de uma ação ganha contra a União, estados, municípios e autarquias (Valor).
O Tesouro foi obrigado ontem, novamente, a pagar juros mais altos para tomar dinheiro emprestado no mercado. Surpreendidos pelo Renda Cidadã, programa que daria continuidade ao Auxílio Emergencial, que acaba em dezembro, investidores estão preocupados com o forte crescimento da dívida pública e a capacidade do governo de honrar seu pagamento no futuro. Por isso, estão exigindo prêmios mais elevados para comprar títulos públicos. “Existe certa apreensão com a tentativa de tornar o Auxílio Emergencial, que deveria ser temporário, um projeto permanente e sem contrapartida de corte de gasto ou aumento de impostos”, diz Sérgio Zanini, da Galápagos Capital (Valor).
O impasse em relação ao uso de precatórios para o financiamento do Renda Cidadã não tem evitado o debate sobre o assunto no Congresso. Apesar de ser criticada por agentes financeiros, a proposta agradou algumas bancadas na casa. Uma das possibilidades discutidas no Senado, por exemplo, é que os recursos captados dessa fonte não afetem pessoas físicas, como aposentados que tiveram ganho de causa na Justiça, mas somente grandes credores. O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse ser contra a ideia do uso desses recursos para financiar o programa social e ontem recebeu novo aceno do presidente Jair Bolsonaro. "A nossa política é livre mercado, seguir a linha do Paulo Guedes” (Valor).
O presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem que o ministro da Economia, Paulo Guedes, é o cara da política econômica. O presidente disse ter 99,9% de confiança nele. O 0,1% restante seria para quando Bolsonaro quiser “mudar alguma coisinha”. A fala foi feita em transmissão ao vivo pelas redes sociais. “Paulo Guedes continua 99,9% de confiança comigo. Deixo 0,1% porque às vezes, eu quero mudar alguma coisinha. Você quer tudo pra você? Você é muito guloso. Daqui a pouco você vai ficar gordo igual o Tarcísio (de Freitas, ministro da Infraestrutura). Não quero você engordando não o PG”. Ele é o cara da política econômica, tá certo? A palavra final é dele e ponto final (O Globo – p.17).
O STF decidiu ontem permitir que a Petrobras venda suas refinarias sem aval do Legislativo. A Corte rejeitou uma ação em que o Congresso acusava o governo de desmembrar a empresa estatal matriz para vender subsidiárias, que não dependem de aval do parlamento para serem privatizadas. A decisão dá força ao plano de vendas da Petrobras, que pretende negociar oito refinarias. As ações preferenciais da estatal, mais negociadas, fecharam o dia em alta de 0,91%, mesmo com o petróleo em queda. A maioria dos ministros discordou da tese levantada na ação pelo parlamento. Os ministros Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso, Cármen Lúcia, Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Luiz Fux votaram nesse sentido (Folha).
Especialistas avaliam que o governo vai ter de correr para aprovar novas regras sobre a operação do refino sem a estatal. Dizem também que, com o resultado da votação de ontem, o STF abriu espaço para que outras companhias estatais sigam os passos da Petrobrás e acelerem a venda de seus ativos. Ex-diretora geral da Agência Nacional do Petróleo e pesquisadora da FGV, Magda Chambriard argumenta que existe longa distância entre as refinarias da Petrobras e, por isso, a tendência é que, mesmo com a entrada da iniciativa privada no setor, não haja concorrência entre elas. Para ela, se nada for feito, o monopólio estatal deve apenas ser substituído por monopólios regionais (Estadão – p.B3).
O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, defende o acordo proposto pelo Espírito Santo — ao qual o Rio aderiu em setembro — para encerrar uma discussão a respeito da divisão de royalties de petróleo que se arrasta há sete anos no STF. Em entrevista, o ministro afirmou, porém, que ainda não há uma posição do governo federal a respeito dos termos desse entendimento. “O ideal é que haja acordo. E a posição que foi adotada pelo estado do Rio contribui muito para que ele seja alcançado. A própria Justiça incentiva esse tipo de acordo”, disse. “Tenho certeza de que o acordo é melhor. E estou vendo que as partes estão chegando a essa concluão” (O Globo – p.19).
Pela primeira vez desde o início da pandemia, a arrecadação tributária apresentou crescimento na comparação com 2019, em mais um indício de recuperação econômica. Em agosto, as receitas federais somaram R$ 124,505 bilhões, avanço real de 1,33% sobre agosto de 2019. Em termos nominais, a alta foi de 3,8%. O resultado surpreendeu o mercado, que esperava uma performance 15,4% menor, segundo indica a pesquisa Prisma Fiscal. “Estamos em trajetória ascendente de arrecadação”, afirmou o chefe do Centro de Estudos Tributários e Aduaneiros da Receita, Claudemir Malaquias. Segundo ele, o resultado de setembro deve ser melhor que o de agosto (Valor).
No mês, as empresas conseguiram pagar integralmente os impostos e contribuições de abril, cujo recolhimento havia sido adiado para agosto por causa da pandemia, diz o fisco. Havia preocupação no meio empresarial, no Congresso e no próprio governo sobre o risco de as empresas terem dificuldade em fazer esses recolhimentos. Falava-se até em um novo Refis. No entanto, não foi o que se observou. A Receita calculou que os valores referentes a abril a serem recolhidos em agosto somariam R$ 23,22 bilhões. Os pagamentos, porém, somaram R$ 17,29 bilhões, uma diferença de 25,55%. A diferença, explicou Malaquias, foi paga na forma de compensações tributárias (Valor).
A partir de hoje empresas estrangeiras poderão participar de licitações no país de forma direta, sem a necessidade de representante nacional. A mudança deveria ter entrado em vigor em maio, mas precisou ser adiada devido à implantação das medidas emergenciais de combate à crise. Para o Ministério da Economia, o processo simplificado trará mais competição às compras públicas, ao facilitar a entrada de fornecedores internacionais em disputas envolvendo bens e serviços. Esse mercado representa cerca de R$ 72 bilhões por ano, sendo R$ 48 bilhões referentes ao Executivo federal, e o restante, a estados e municípios (Valor).
Entram em vigor nesta ontem regras mais rígidas para prevenção à lavagem de dinheiro. O Banco Central passa a exigir um monitoramento mais firme dos bancos com relação a depósitos e retiradas suspeitos mesmo que abaixo de R$ 2 mil, valor utilizado como parâmetro para fiscalização. A ideia, segundo o especialista em direito bancário, Guilherme Dantas, é que operações suspeitas, que pareçam ter o objetivo de ficar fora do radar, sejam monitoradas. “Se eu sou um correntista e começo a receber vários depósitos abaixo de R$ 2 mil, de R$ 1,9 mil, e se esse comportamento denotar que eu estou fazendo isso para fugir ao monitoramento, eu devo automaticamente ser considerado como operação monitorada”, explicou (O Globo – p.20).
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