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Real é a pior moeda global em 2020, quando sofreu desvalorização de 28,63% frente ao dólar. A valorização do dólar mostra a piora da percepção da economia brasileira por investidores domésticos e estrangeiros. A situação reflete não só a preocupação com a deterioração das finanças públicas no período pós-pandemia, mas também as incertezas quanto à capacidade política do governo de lidar com os problemas. O acirramento de conflitos dentro do ministério mostra o ministro da Economia, Paulo Guedes, sendo permanentemente questionado por seus pares, o que o enfraquece perante os setores financeiro e produtivo, e um presidente que a todo momento desautoriza a austeridade defendida pela equipe econômica (Valor).
Foi uma verdadeira maxidesvalorização da moeda, que não pode ser comparada à ocorrida no mesmo período de 1999, de 37,6%, porque hoje o país possui reservas cambiais (US$ 357,4 bilhões) e há liquidez abundante de capitais no mundo. Mas, “os últimos movimentos são na direção de que não vai ter reforma nenhuma no Brasil e de que será difícil o governo enfrentar pautas como a PEC dos gatilhos, que era bem importante”, diz Fabricio Taschetto, da ACE Capital, em referência ao anúncio na segunda-feira do programa Renda Cidadã, que prevê uso de receitas do pagamento de precatórios e do Fundeb, medidas interpretadas por analistas e economistas como uma forma de driblar o teto de gastos. “A incerteza veio para ficar até os políticos acharem um caminho fiscal”, observa Bernardo Zerbini, da AZ Quest (Valor).
O Brasil deve sair da pandemia de covid-19 com eficiência ainda menor da economia, quadro que pode ser agravado pela criação de uma nova CPMF, avalia o economista José Alexandre Scheinkman. Para o professor da Universidade Columbia e de Princeton, há muitas promessas do governo, mas pouca execução. “A reforma tributária não existe. No lugar, apareceram rumores de uma nova CPMF”, disse. Segundo ele, o imposto sobre transações eletrônicas seria um retrocesso que colocaria o país nadando contra a maré mundial de revolução digital. “A CPMF é o único imposto que eu conheço que é três em um: tem impacto negativo na distribuição de renda, distorce a produção e atrasa o desenvolvimento tecnológico” (Valor).
O ministro Paulo Guedes defendeu o controle nos gastos com precatórios, mas afirmou que o governo não vai usar essa fonte para bancar o programa Renda Cidadã. Em videoconferência, Guedes demonstrou que há divergência em relação à medida, anunciada pelo relator do Orçamento de 2021, senador Márcio Bittar (MDB-AC). Segundo ele, o parlamentar está fazendo os próprios estudos, enquanto a equipe econômica também faz avaliações sobre o programa. “Se queremos respeitar teto, temos que passar lupa em todos os gastos, para evitar propostas de romper o teto, de financiar o programa de forma equivocada, que nunca foi nossa ideia”, disse (Folha).
Protagonistas de uma discussão que completa mais de duas décadas, estados e municípios somam no agregado uma dívida estimada atualmente em cerca de R$ 107 bilhões em estoque de precatórios. O débito precisa ser saldado até fim de 2024, prazo estabelecido pela Emenda Constitucional 99, de 2017. Entre os entes com maiores débitos, considerando valores absolutos, estão o estado de São Paulo, o município de São Paulo e o Rio Grande do Sul. A meta de quitar integralmente o estoque de precatórios nos próximos quatro anos é considerada inviável para alguns governos estaduais e prefeituras. Marco Aurelio Cardoso, secretário da Fazenda do Rio Grande do Sul, diz que o débito com precatórios do estado soma R$ 16,4 bilhões (Valor).
Depois das críticas de investidores, Congresso e órgãos de controle que viram a estratégia como “pedalada”, as discussões do substituto do Bolsa Família voltaram praticamente à estaca zero e há avaliação de líderes do Congresso de que a votação deve ficar para 2021. Na segunda-feira, após uma reunião com o presidente Jair Bolsonaro e ministros, o senador Márcio Bittar (MDB-AC), vice-líder do governo e relator da chamada PEC emergencial, anunciou, ao lado de Guedes, que a proposta de emenda à Constituição a ser enviada ao Congresso previa o financiamento do Renda Cidadã com recursos do Fundeb (fundo da educação básica) e com verbas reservadas no Orçamento para pagamentos de precatórios (Estadão – p.B1).
Paulo Guedes disse entender que os precatórios são “dívida líquida e certa” e acrescentou que o governo “vai pagar tudo”. Mas disse que é preciso examinar quando há despesas “subindo explosivamente”. “Não para financiar programas, que não é regular, não é uma fonte saudável, limpa, permanente, previsível. Mas é natural, se estamos querendo respeitar teto, passar uma lupa em todos os gastos”, disse. Os precatórios são dívidas do poder público reconhecidas pela Justiça – quando alguém ganha um processo na Justiça contra um ente público e tem valores a receber, passa a ter um precatório e entra na fila do pagamento (Estadão – p.B1).
As propostas de usar recursos do Fundeb e precatórios não duraram nem três dias e fizeram o governo voltar a rediscutir novas medidas, sinalizando a dificuldade em avançar na definição do programa. Desde junho, o governo intensificou a elaboração da reformulação do Bolsa Família como alternativa para o fim do auxílio emergencial, concedido a trabalhadores informais e desempregados para atenuar os efeitos da pandemia na renda das famílias. Depois de o presidente Jair Bolsonaro rejeitar as críticas ao Renda Cidadã e pedir propostas, economistas manifestaram preocupação com o foco muito concentrado na parte fiscal e pouca atenção ao desenho do próprio programa, que mantém uma incógnita (Estadão – p.B3).
Líderes partidários e congressistas avaliam que o governo está perdido e tateando no escuro para encontrar as fontes de financiamento para o Renda Cidadã, programa com o qual Jair Bolsonaro quer substituir o Bolsa Família. Os parlamentares reagiram às declarações do ministro Paulo Guedes de que não será utilizada sobra de recursos da limitação no pagamento de precatórios para financiar o novo programa social. “O governo lança uma proposta sem pé nem cabeça em um dia e, após a reação dos agentes econômicos, se vê obrigado a recuar da péssima ideia de financiar o Renda Cidadã com um calote”, afirmou Alessandro Molon (RJ), líder do PSB na Câmara (Folha).
Após o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) afirmar que Paulo Guedes interditou a reforma tributária, o ministro da Economia disse ontem que há boatos de que Maia fez um acordo com a esquerda para travar privatizações. A troca de acusações é feita em público. Na terça-feira, o presidente da Câmara perguntou em suas redes sociais: “Por que Paulo Guedes interditou o debate da reforma tributária?”. Menos de 24 horas depois, Guedes respondeu em transmissão ao vivo pela internet ao falar das privatizações. Questionado sobre as declarações de Guedes, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), rebateu. "Paulo Guedes está desequilibrado” (Folha).
No primeiro leilão de concessão de saneamento após a aprovação do novo marco regulatório para o setor, a BRK Saneamento arrematou ontem a prestação de serviços de água e esgoto na região metropolitana de Maceió/AL. A empresa, controlada pela canadense Brookfield, ofereceu R$ 2 bilhões pela concessão, ágio de 13.182,64% sobre o preço mínimo proposto pelo BNDES. A concessão foi disputada por sete empresas, com outras três propostas em valores acima de R$ 1 bilhão. O resultado foi considerado surpreendente tanto pelo governador de Alagoas, Renan Filho, quanto pelo presidente do BNDES, Gustavo Montezano (Folha).
O projeto de lei que viabiliza novas ferrovias pelo regime de autorização, como já acontece nos portos, teve seu escopo ampliado e passou a ser tratado como um novo marco regulatório do setor. Com isso, agora vai além do texto inicialmente discutido no Senado e deve afetar também a vida das atuais concessionárias. O ganho de musculatura do projeto é resultado de negociações entre Ministério da Infraestrutura, Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF) e senador Jean-Paul Prates (PT-RN) - atual relator da proposta. As conversas se tornaram um raro exemplo de sintonia entre o governo Bolsonaro e a oposição de esquerda (Valor).
O governo informou ter enviado ao Congresso projeto de lei que abre crédito “no valor aproximado de R$ 6 bilhões” que serão usados principalmente para obras de infraestrutura. O impasse sobre o custo dessas obras e o envio do projeto se arrasta há meses dentro do governo. Só agora, porém, o Palácio do Planalto enviou o texto ao Congresso. A íntegra do projeto ainda não foi divulgada. Por isso, não é possível saber quais projetos e ministérios serão atendidos. Segundo nota divulgada pela Secretaria-Geral da Presidência da República, os recursos serão usados, entre outros, para construção e manutenção de rodovias, para a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (O Globo – p.21).
O mercado de trabalho criou 249 mil vagas de emprego com carteira assinada em agosto, mas o saldo acumulado no ano ainda é negativo em 849 mil. Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), apresentados ontem pelo Ministério da Economia, mostram que o país teve 1,239 milhão de contratações formais e 990 mil desligamentos em agosto. O mercado de trabalho sofreu um tombo com a crise provocada pelo novo coronavírus. Os efeitos foram sentidos a partir de março, quando foi decretada a pandemia e políticas de isolamento fecharam comércios e empresas nas cidades (Folha).
O governo vai autorizar mais uma prorrogação do programa de suspensão de contratos e corte de jornada e salário, segundo o ministro Paulo Guedes. Com a decisão, os acordos poderão se alongar por mais dois meses, totalizando oito meses. Na avaliação do ministro, o programa tem o melhor desempenho entre as ações do governo na pandemia quando se avalia sua efetividade em relação ao gasto total. “Foi um programa extraordinariamente bem-sucedido, tanto que estamos prorrogando por mais dois meses”, disse. O programa que visa evitar demissões em massa foi instituído em 1º de abril. Quando foi criado, a ideia era que a suspensão de contrato fosse válida por até dois meses e a redução de jornada, três (Folha).
O presidente Jair Bolsonaro rebateu ontem as declarações do candidato do Partido Democrata à Presidência dos Estados Unidos, Joe Biden, sobre a preservação da Amazônia. Em mensagem postada em redes sociais, Bolsonaro considerou a fala “desastrosa” e “lamentável”. Ele fez também referência a uma suposta cobiça de países pela floresta e afirmou que a soberania do Brasil é ‘inegociável”. "O que alguns ainda não entenderam é que o Brasil mudou. Hoje, seu presidente, diferentemente da esquerda, não mais aceita subornos, criminosas demarcações ou infundadas ameaças. Nossa soberania é inegociável”, escreveu Bolsonaro (Valor).
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