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A pandemia da covid-19 provocou um tombo histórico no PIB (valor de tudo o que é produzido na economia) do segundo trimestre, como ocorreu em praticamente todos os países. A retração, de 9,7% ante os três primeiros meses do ano, já coloca o País na pior recessão da história. Mas os dados divulgados ontem pelo IBGE reforçaram um movimento, iniciado há algumas semanas, de melhora nas expectativas para o ano como um todo. O vigor maior que o esperado em algumas atividades com a reabertura da economia e a extensão do auxílio emergencial até dezembro é apontado como fator positivo. Ainda assim, a expectativa é de que 2020 termine também com retração inédita (Estadão – p.B1).
O tombo de 9,7% segue-se à retração de 2,5% no primeiro trimestre, acumulando uma perda de 11,9% na atual recessão, nas contas de Juliana Trece, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV). A queda supera com folga a, agora, segunda maior recessão já identificada, entre 1981 e 1983, quando o PIB amargou retração acumulada de 8,5% em meio à crise das dívidas externas da América Latina. O quadro só não foi pior por causa das medidas do governo para mitigar a crise, com destaque para o auxílio emergencial de R$ 600 por mês pago aos mais pobres e aos trabalhadores informais e desempregados (Estadão – p.B1).
O mercado, apesar do tombo histórico do PIB, teve um dia de euforia. O Ibovespa começou o mês com a maior alta diária desde 8 de junho (3,18%), ao subir ontem 2,82%, a 102.167,65 pontos, com praticamente todos os papéis no azul. O dólar cedeu 1,74% e fechou contado a R$ 5,38. Pesaram nos indicadores do mercado o anúncio do envio da reforma administrativa ao Congresso e a prorrogação do auxílio emergencial por mais quatro meses. O sincronismo dos impactos da pandemia em todo o mundo fez com que apenas dois países – China e Índia – registrassem crescimento econômico num levantamento sobre o desempenho do PIB em 48 países, feito pela Austin Rating (Estadão – p.B1).
O ministro da Economia, Paulo Guedes, comparou a queda do PIB ao "barulho de um raio" que caiu no passado. "Isso é lá atrás. Isso é um impacto de lá atrás. Nós estamos decolando em V", disse o ministro ao ser questionado pela Folha. "Esse é o barulho do raio que caiu em abril", acrescentou. O ministro falou rapidamente com a imprensa após anúncio pelo presidente Jair Bolsonaro da prorrogação do auxilio emergencial por mais quatro meses. Perguntado, o presidente se recusou a comentar a queda da atividade econômica. O segundo trimestre foi o período mais intenso dos efeitos econômicos da pandemia do novo coronavírus, como mostraram também dados de outros países (Folha).
A queda do PIB da construção ficou aquém do esperado e reforçou a expectativa de retração no setor menor que a estimada no início da pandemia. Ainda assim, será forte e retomada consistente vai depender da recuperação da economia. O recuo foi de 5,7% no segundo trimestre, sobre o primeiro, quando já tinha havido diminuição de 3,3%, na série, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 12 meses, a queda acumulada é de 1,6%. Com o resultado de abril a junho, o PIB setorial voltou ao nível do primeiro trimestre de 2007. “A construção sofreu, mas o resultado corroborou uma visão menos pessimista”, diz Ana Maria Castelo, do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Valor).
As medidas de isolamento social e as incertezas sobre a duração da pandemia levaram ao colapso os investimentos produtivos no segundo trimestre. A queda foi de 15,4% ante os três primeiros meses do ano, um recorde nessa comparação, segundo o IBGE. Com isso, a distância do investimento em relação ao pico, no segundo trimestre de 2013, ampliou-se para 37,3%. O recuo só não foi maior por causa dos efeitos contábeis da importação de plataformas de petróleo, sem os quais o investimento teria caído 22,9% em relação ao segundo trimestre de 2019, diz o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) – Valor.
O presidente Jair Bolsonaro anunciou ontem a prorrogação do auxílio emergencial a informais, desempregados e beneficiários do Bolsa Família até o fim deste ano. Serão mais quatro parcelas de R$ 300 (setembro a dezembro). “O valor definido é 50% superior ao valor médio do Bolsa Família”, afirmou Bolsonaro, em referência ao benefício médio de R$ 190 do programa criado na gestão petista. “O valor como vínhamos dizendo, R$ 600, é muito para quem paga; no caso, o Brasil. Podemos dizer que não é um valor suficiente muitas vezes para todas as necessidades. Mas basicamente atende”, completou o presidente (Estadão – p.B5).
O ministro da Economia, Paulo Guedes, sugeriu repassar parte dos lucros das empresas estatais para o financiamento de transferências de renda no âmbito do Renda Brasil, programa que o governo quer criar para substituir o Bolsa Família. A ideia seria uma forma de estabelecer o que ele chamou de uma espécie de Imposto de Renda negativo com "dividendos sociais". Segundo o ministro, os recursos iriam para um Fundo Brasil, para repassar aos mais pobres parte dos lucros que as companhias hoje transferem à União. A medida seria uma forma, na visão de Guedes, de aproveitar ativos que o governo tem dificuldade de vender, já que o programa de privatizações tem enfrentado dificuldades para deslanchar (O Globo – p.34).
O sistema, segundo o ministro, seria um cidadão pobre receber um valor do governo em vez de contribuir com a União. O direito a receber algum valor ou o dever de pagar imposto seria baseado nos rendimentos da pessoa. “Se o Governo quiser manter a Petrobras, a Caixa Econômica etc., tudo bem, mantenha. Agora, nós podemos dar um Imposto de Renda negativo. Quer dizer, com a mão esquerda eu estou dando recurso, com a mão direita eu estou recolhendo aquilo de volta, subscrevendo cotas do Fundo Brasil. Ao invés de a União receber R$ 25 bilhões no fim do ano, de dividendos, vai receber R$24 bilhões. E R$1 bilhão vai para os brasileiros mais frágeis”, disse o ministro, durante audiência pública no Congresso (O Globo – p.34).
O presidente Jair Bolsonaro anunciou que enviará amanhã ao Congresso sua proposta de reforma administrativa. Em entrevista à imprensa, no Palácio da Alvorada, o presidente não disse, contudo, se a iniciativa que será encaminhada sofreu alterações em relação à proposta fechada pela equipe econômica no ano passado. "A primeira decisão é encaminhar na quinta-feira a reforma administrativa. Que fique bem claro: não atingirá nenhum dos atuais servidores. Ela se aplicará apenas aos futuros servidores concursados", afirmou. O presidente fez o anúncio ao confirmar que assinará medida provisória que prorroga o pagamento do auxilio emergencial até o final do ano em parcelas de R$ 300 (Folha).
O envio da reforma é considerado pela área econômica uma maneira de conter o bombardeio contra o teto de gastos, que limita o avanço das despesas à inflação, e sinalizar compromisso com a agenda fiscal num momento em que o mercado coloca em xeque a capacidade de Guedes em segurar a pressão para abrir o cofre. Bolsonaro exigiu que os 9,77 milhões de funcionários que estão na ativa na União e nos estados e municípios (21% dos trabalhadores formais do país) fossem poupados das mudanças. A proposta entregue pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, já era dirigida principalmente aos novos servidores, mas incluía alguns pontos que mexiam com os que estão trabalhando (Estadão – p.B5).
Filho de servidores aposentados, o deputado federal Tiago Mitraud (Novo-MG), comanda a frente parlamentar da reforma administrativa. Diz conhecer o funcionalismo, a burocracia e a ineficiência estatal. O jovem deputado, de 34 anos, ao lado de congressistas experientes como Kátia Abreu (PP-TO) e Antonio Anastasia (PSD-MG), assume a missão de convencer seus pares a tocar as mudanças. "Queremos criar um ambiente de pressão positiva, mostrar ao Executivo e ao presidente (Jair Bolsonaro) que o Congresso quer essa reforma, que não precisa ter medo. "Progressão na carreira e avaliação de desempenho podem e devem ser revistos. Nem mesmo a estabilidade escapa”, disse (Folha).
A Câmara dos Deputados aprovou ontem o PL 6.407/13, criando o novo marco legal do gás, que busca destravar investimentos de cerca de R$ 60 bilhões ao longo de cinco anos e que pode reduzir o preço do gás no país, segundo o setor. O texto-base foi aprovado por 351 votos a favor e 101 contrários. Os deputados rejeitaram propostas de mudanças ao texto. O projeto vai ao Senado. O projeto faz parte de um pacote de medidas defendidas pelo governo Jair Bolsonaro para atrair investimentos, gerar empregos e modernizar os serviços públicos. Além dos R$ 60 bilhões em investimentos para o setor ao longo de cinco anos, há ainda uma expectativa de geração de quatro milhões de empregos (Folha).
Com planos de realizar o leilão do 5G no próximo ano, maior certame da história, o presidente Jair Bolsonaro editou decreto que reduz poderes das prefeituras que hoje dificultam a instalação de antenas de celular no país. Para as teles, este é um dos maiores entraves para o avanço da cobertura de telefonia no país e uma das principais barreiras para a chegada da telefonia de quinta geração. "Ano que vem teremos o leilão de 5G e, se não fosse o decreto das antenas, isso não seria possível", disse o ministro das Comunicações, Fabio Faria (PSD-RN) durante cerimônia ocorrida no Palácio do Planalto que contou com a presença dos presidentes dos três Poderes (Folha).
De acordo com as novas regras, a partir de agora, as operadoras só precisarão informar à Anatel onde pretendem instalar sua infraestrutura (cabos, centrais e antenas), entrar com pedido nas prefeituras, que não poderão mais cobrar pelo cabeamento em postes ou instalação de fibras sob vias públicas. O licenciamento ambiental, que antes fazia o processo levar mais de dois anos, também sofreu mudanças. O decreto estabelece que, vencido o prazo de dois meses pela secretaria municipal, a licença de instalação estará automaticamente aprovada, o que no jargão jurídico se conhece como “silêncio positivo” (Folha).
A importação, que de janeiro a agosto já acumula queda de 12,3%, deve se acelerar até o fim do ano e ancorar superávit comercial para 2020 mais robusto do que os US$ 48 bilhões em 2019. Como a expectativa é de queda também nas exportações, o superávit deve registrar queda na corrente de comércio. No acumulado até agosto, essa retração representa volta ao nível de dez anos atrás, diz o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial. De janeiro a agosto as exportações somaram US$ 138,6 bilhões, com queda de 6,6% pela média diária contra igual período de 2019. As importações ficaram em US$ 102 bilhões. O superávit comercial até agosto somou US$ 36,6 bilhões, com alta de 14,4% (Valor).
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