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Às vésperas da apresentação do Projeto de Lei Orçamentária (PLOA) para 2021, a equipe econômica amplificou os discursos em defesa da retomada da trilha fiscal anterior à pandemia no ano que vem. Na sexta-feira, marcada pela divulgação do resultado do Tesouro, dos dados da dívida em títulos e da revisão da estratégia de financiamento do Tesouro, os técnicos e o próprio ministro Paulo Guedes enfatizaram a importância do compromisso com o teto de gastos. “A simples perda de credibilidade do processo de consolidação fiscal faria com que as taxas de juros aumentassem e que os investimentos privados diminuíssem, o que prejudicaria o crescimento econômico do país e reduziria a renda e a geração de empregos (Valor).
Em termos numéricos, um aumento de 1 ponto percentual na taxa de juros reduziria o PIB entre R$ 52 e R$ 92 bilhões em um ano”, afirma o Tesouro em documento divulgado na sexta-feira. Variações da mesma mensagem, sempre vinculando a responsabilidade ao teto, foram ditas pelo secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, pelo secretário do Tesouro, Bruno Funchal, e pelos demais técnicos. O subsecretário da Dívida Pública do Tesouro, José Franco, explicou que os investidores estrangeiros que abandonaram os títulos nacionais devem voltar em algum momento. “Mas isso está ligado à consolidação fiscal”, salientou (Valor).
Pelo segundo ano consecutivo, a proposta orçamentária foi elaborada sem aumento real para o salário mínimo. A razão para isso é que o piso salarial ficou sem uma política específica desde 2019, sendo garantida pelo texto constitucional apenas a correção pela inflação passada. O ano de 2019 foi o último em que o salário mínimo foi corrigido pela inflação do ano anterior, acrescido do crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes. Essa política de valorização do mínimo foi fixada pela lei 13.152, de julho de 2015, a partir de iniciativa da ex-presidente Dilma Rousseff. O piso salarial é corrigido pelo INPC e, como ele será muito baixo neste ano, as despesas da União também crescerão menos (Valor).
Com a publicação da maior parte dos balanços do segundo trimestre pelas empresas de capital aberto, surgiu um retrato mais fiel sobre a extensão do estrago. Se, de um lado, os balanços mostram que as previsões mais pessimistas de muitos analistas não se confirmaram, de outro revelam que a pandemia não deixou de castigar duramente a maior parte das grandes empresas do país. Segundo estudo feito com pela Economatica, uma empresa de dados de mercado, as companhias não financeiras de capital aberto tiveram redução de 81,9% no lucro líquido no primeiro semestre de 2020, em relação ao mesmo período do ano passado (Estadão – p.B1).
Os ganhos caíram de R$ 49,2 bilhões para R$ 8,9 bilhões. “Foi uma queda dramática”, diz Evandro Buccini, diretor de gestão de recursos da Rio Bravo, empresa de investimentos fundada pelo economista Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central. O levantamento incluiu 218 empresas não financeiras, de diferentes ramos de atividade, que divulgaram balanços até 21 de agosto. Como os resultados de Petrobrás, Vale, Braskem, Suzano, Oi e Azul provocariam grande distorção nos dados, elas foram excluídas da amostra. Se fossem incluídas na pesquisa, o resultado consolidado do primeiro semestre seria ainda pior. O lucro de R$ 8,9 bilhões viraria um prejuízo de R$ 76,7 bilhões (Estadão – p.B1).
No auge da pandemia, no começo de abril, o presidente Jair Bolsonaro fez uma previsão sinistra: “Vai quebrar tudo”, afirmou, ao criticar as medidas de isolamento social decretadas por governadores e prefeitos, que paralisavam de forma despropositada, em sua visão, a economia do país. Mas, decorridos quase cinco meses de sua “profecia” apocalíptica, encampada por analistas de diferentes orientações políticas, a realidade revelou um quadro bem mais palatável, apesar dos danos inevitáveis provocados pela pandemia nos negócios (Estadão – p.B3).
A recuperação parcial de grandes setores econômicos em maio e junho, após o colapso registrado em abril, não será capaz evitar uma queda sem precedentes da atividade econômica no segundo trimestre. Medidas de isolamento para conter a pandemia de covid-19 fecharam fábricas e milhares de estabelecimentos pelo país, derrubaram investimentos e, em menor magnitude, o consumo das famílias. Desde abril, considerado o fundo do poço, até houve melhora nas projeções, conforme Estados foram relaxando a quarentena, mas o PIB ainda deverá recuar inéditos 9,2% no segundo trimestre, ante o primeiro, feitos os ajustes sazonais. É o que aponta a mediana de 49 economistas consultados pelo Valor.
Depois de um primeiro semestre perdido, a expectativa é que a economia possa ter um momento inicial de recuperação na segunda metade do ano até mais forte do que o esperado, ajudada pela reabertura das atividades. É o que apontam dados de julho e indicadores preliminares de agosto. O desempenho do quarto trimestre, porém, é mais incerto, por causa das indefinições sobre a extensão do auxílio emergencial e também dos encaminhamentos políticos e fiscais que serão dados ao país, afirmam economistas. Mediana das estimativas dos economistas consultados pelo Valor aponta que o PIB do terceiro trimestre deve crescer 5,4%, na comparação com os três meses anteriores, feitos os ajustes sazonais.
Nova benesse para militares da reserva tem colocado em lados opostos o Ministério da Defesa e o da Economia. A pasta comandada pelo general Fernando Azevedo conseguiu aval para que integrantes das Forças Armadas com cargo no governo acumulem remunerações acima do teto do funcionalismo – R$ 39,3 mil –, mas a equipe de Paulo Guedes tenta barrar. A área econômica alerta para o possível impacto nas contas que a mudança na regra pode causar e aponta que, desde 2018, o desconto feito no salário de servidores poupou R$ 518 milhões aos cofres públicos (Estadão – p.A4).
O trabalho remoto, também conhecido pelo termo em inglês home office, ganhou escala no Brasil, de forma forçada, como alternativa para deter o contágio na pandemia da Covid-19. Passados quase seis meses desde a sua disseminação entre as empresas, os dados consolidados desse sistema de trabalho constituem uma espécie de novo indicador das desigualdades econômicas do país. Em julho, dos 8,4 milhões de trabalhadores remotos do Brasil, praticamente a metade, 4,9 milhões, estava no Sudeste, região que concentra profissionais mais qualificados e a geração de PIB. Apenas 252 mil estavam no Norte, fatia mais pobre do país (Folha).
Os números estão na Pnad Covid-19 da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio do IBGE, dedicada a medir os efeitos econômicos da pandemia. Quando se compara a proporção de trabalhadores em home office com a população ocupada em cada região, a disparidade fica mais evidente. Em torno de 10% de toda a população ocupada no Brasil estava nesse sistema em julho. A fração, porém, é maior no Sudeste, onde 13% da população ocupada estava no trabalho remoto, e bem menor no Norte, onde a apenas 4% trabalhavam em casa diante de um computador (Folha).
Em cima da hora, o governo conseguiu evitar a votação de um projeto de lei no Senado, defendido por grandes empresas de ônibus, que reverte o processo de abertura no mercado de transporte rodoviário interestadual de passageiros. Os ministérios da Infraestrutura e da Economia avaliam que a aprovação do PL 3.819/20, significaria retrocesso no estímulo à concorrência. A CNT, com o respaldo de empresários do setor, afirma que a abertura ocorreu de forma atabalhoada e provocou desorganização do mercado. O PL, relatado pelo senador Acir Gurgacz (PDT-RO), prevê mudança no regime de exploração do serviço. A outorga para novas linhas deixaria de ser por autorização e voltaria ao esquema de permissões (Valor).
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), aproveitou um evento em Calda Novas, no sábado, para manifestar reaproximação política com Jair Bolsonaro e trégua na guerra contra a Enel, distribuidora de energia que atua no estado. Durante a inauguração de uma usina fotovoltaica, Caiado chamou Bolsonaro de “estadista” e “melhor presidente para Goiás desde Juscelino Kubitscheck”. Os dois haviam rompido no início da pandemia, após a demissão do ex-ministro da Saúde Luiz Mandetta, que havia sido indicado por Caiado. O governador também mencionou a retomada de relações com a Enel. Caiado chegou a articular a reestatização da distribuição de energia, por falhas na prestação do serviço (Valor).
Em meio a um cenário de retração da aviação civil em todo o mundo devido à pandemia do novo coronavírus, o governo brasileiro trabalha para lançar o edital da 6ª rodada de concessão de aeroportos ainda neste ano, com previsão de leilão até março de 2021. O governo revisou para baixo exigências de outorga mínima, requisitos para a participação no edital e projeções de demanda para tentar atrair interessados. No mercado, as modificações são tidas como positivas, mas o momento ainda é visto como incerto por grandes operadores. Ao todo serão 22 aeroportos divididos em três grandes blocos regionais (Sul, Norte e Central) que serão transferidos à iniciativa privada por 30 anos (O Globo – p.17).
Desde que construiu uma fábrica em Piracicaba (SP), há oito anos, o grupo coreano Hyundai decidiu investir fortemente em automação. Por isso, agora, com a crise, enfrenta menos problemas de excesso de mão de obra do que a maioria dos seus concorrentes. Em 2019, cada funcionário da indústria automotiva foi, em média, responsável pela produção de 27,6 veículos. Os 106,7 mil trabalhadores montaram 2,95 milhões de unidades. Com 2,8 mil empregados, a Hyundai conseguiu mais do que o dobro - seu índice foi de 72,8, somando 203.686 veículos. Os concorrentes mais diretos não passaram de 45 por trabalhador. Passada a fase de paralisação das linhas de montagem, por conta da pandemia, a Hyundai foi, agora, a única montadora a voltar a trabalhar em três turnos. Em agosto, a fábrica de Piracicaba funcionou com 90% da sua capacidade, segundo o vice-presidente da companhia, Ricardo Martins (Valor).
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