|
O ministro da Economia, Paulo Guedes, reinaugura hoje a rodada de audiências pública da comissão mista da reforma tributária. Terá sua primeira oportunidade para defender, no Congresso, a criação de uma contribuição sobre pagamentos nos moldes da antiga CPMF. Guedes conta com o aval do presidente Jair Bolsonaro para comandar as articulações voltadas a criar o imposto, mas também foi informado que o chefe do Poder Executivo não pretende encampar a ideia pessoalmente. Temendo desgaste político, Bolsonaro deve permanecer à margem do debate sobre o mecanismo que é apontado como capaz de elevar a carga tributária (Valor).
Diante da preocupação de aliados com o potencial estrago político desse assunto, sobretudo às vésperas de eleições municipais, o ministro da Economia foi alertado de que precisará ser “didático” com a sociedade. Sua missão é evitar que prevaleça a tese segundo a qual o governo está apostando na criação de novos tributos sem compensações. “Mais do que convencer os parlamentares, o ministro Paulo Guedes terá que construir uma teia de apoio na sociedade, assim como ocorreu com a reforma da Previdência. Caso não tenha sucesso na empreitada, o próprio governo pode trabalhar contra a ideia lá na frente“, aponta um importante aliado do presidente (Valor).
A nova etapa da reforma tributária em estudo pelo governo vai modificar o modelo de tributação de profissionais liberais que prestam serviços por meio de empresas e conseguem receber remunerações em forma de lucro livre do pagamento de impostos. Escritórios de advocacia, contabilidade, assessoria econômica e de comunicação, entre outros , que hoje pagam alíquota de 3,65% de PIS/Cofins e distribuem cerca de 85% do que faturam sem pagar impostos, estão se mobilizando contra a proposta de criação da nova Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e, principalmente, contra a volta da tributação sobre lucros e dividendos (pagamentos que os acionistas recebem pelo lucro gerado) – Estadão – p.B1.
O modelo atual levou à famosa “pejotização”: trabalhadores mais qualificados deixam de ser contratados como pessoa física e passam a atuar como pessoa jurídica. Nesse caso, paga até menos de 1/3, de tributos em comparação a um empregado registrado, mesmo exercendo tarefas idênticas. Para o consultor Thales Nogueira, o fenômeno da “pejotização” contribui para aumentar a desigualdade de renda no Brasil nos últimos anos ao tributar menos quem ganha mais. De acordo com os dados mais recentes do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF), o porcentual médio de renda isenta dos profissionais liberais chega a 76% entre os advogados, 75% entre economistas, 71,6% entre agentes e representantes comerciais (Estadão – p.B1).
O governo estuda reduzir a alíquota do Imposto de Renda da Pessoa Física de 27,5%, atualmente a maior na tabela da Receita. Os números finais ainda foram calculados, mas técnicos citam percentuais entre 23% e 25%. A redução seria compensada por outra medida em análise desde o ano passado, o corte de deduções médicas feitas pelas pessoas físicas nas declarações anuais de ajuste do IR. Estudo do Ministério da Economia aponta que as deduções representam o valor mais expressivo — R$ 15,1 bilhões ao ano — dentre os chamados gastos tributários do governo com saúde. Isso representa quase um terço dos subsídios na área (Folha).
Na avaliação de técnicos, o benefício precisa ser revisto por contemplar classes mais altas da população. O diagnóstico é que a dedução é usada de forma concentrada pelos 20% mais ricos da sociedade. Por isso, o governo estuda reduzir os descontos que concede no IR para quem usa a rede privada de saúde. No ano passado, a proposta de criar um teto para controlar esse abatimento também esteve em estudo — uma espécie de trava para impor limites a famílias mais ricas e com alto gasto em saúde privada. Uma simulação feita pelos técnicos indica que, com o corte nas deduções médicas, seria possível reduzir também as demais alíquotas (Folha).
O principal motivo da elevação da alíquota do PIS/Cofins de 9,25% para 12% com a nova Contribuição Social sobre Operações com Bens e Serviços (CBS), proposta pelo governo, é a mudança na forma de apuração do tributo. Passará a ser cobrado “por fora” e não mais “por dentro”, segundo informou o chefe do Centro de Estudos Tributários e Aduaneiros da Receita, Claudemir Rodrigues Malaquias. Só essa alteração reduzirá a base de cálculo da CBS em mais de R$ 1,8 trilhão por ano, disse Malaquias ao Valor. Explicou que o governo não tem como evitar a mudança na forma de apuração do tributo. O STF determinou que a incidência do PIS/Cofins não pode recair sobre o valor dos demais impostos exigidos na operação, como o ICMS e o ISS.
Por isso, a alíquota da CBS precisa subir para que não haja perda de receita. A nova alíquota da CBS ficou maior também por causa da ampliação dos créditos que podem ser utilizados. A CBS alarga a possibilidade de creditamento das aquisições de bens, serviços e direitos utilizados pela pessoa jurídica em sua atividade, em comparação com a sistemática atual do PIS/Cofins, disse Malaquias. “Pela sistemática atual a empresa pode abater o custo da energia elétrica utilizada em sua fábrica, mas não pode abater a energia usada em seu escritório. Com a CBS, poderá abater”. A Receita Federal estima que essa ampliação aumente a base de cálculo de tomada de créditos em mais de R$ 300 bilhões por ano (Valor).
A alíquota de 12% proposta pelo Ministério da Economia na reforma do PIS/Cofins aumenta a carga tributária em cerca de R$ 50,3 bilhões, segundo cálculos do Observatório Fiscal do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). Os economistas Fábio Goto e Manoel Pires, que foi secretário de Política Econômica, fizeram uma análise detalhada do projeto encaminhado ao Congresso e chegaram à conclusão que, para ser neutra, a alíquota teria de ser de 10,1%. Esse número, aliás, foi mencionado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, em reunião com empresários, quando disse que aceitaria reduzir para cerca de 10% a CBS em uma negociação com estados e municípios (Valor).
Na análise sobre a reforma tributária, os economistas apontam que a calibragem maior adotada teria algumas motivações. Entre elas a uniformização do conceito de faturamento para a arrecadação bruta; maior aproveitamento de créditos, elevado potencial de planejamento tributário; exclusão dos impostos subnacionais da base de cálculo do imposto; mudança da sistemática “por dentro” e “por fora”; necessidade de ampliar arrecadação; e margem de segurança para negociação no Congresso. Os autores ponderam que a estimativa deve ser vista com alguma cautela, pois muitos setores terão ampliação de possibilidade de aproveitamento de créditos tributários, inclusive adaptando seus sistemas de produção (Valor).
O governo estuda reduzir de 8% para 6% a contribuição ao FGTS paga mensalmente pelas empresas sobre salários dos empregadores. A medida faz parte de um pacote de desoneração da folha, que inclui também a redução dos pagamentos para o INSS, em troca da criação de um novo imposto sobre pagamentos nos moldes da CPMF. O corte no FGTS reduziria o custo da mão de obra no país, mas representaria perdas para os trabalhadores, que teriam menos recursos depositados em suas contas do fundo. O governo argumenta que, em troca, haveria um aumento das contratações no mercado formal (O Globo - p.23)
O Congresso colocou no radar a possibilidade de adiar o decreto de calamidade pública no país para 2021 se os efeitos da pandemia de covid-19 se estenderem para o próximo ano. A prorrogação daria aval para o governo Jair Bolsonaro gastar mais no próximo ano com a justificativa de combater as consequências econômicas da doença. Parecer das consultorias da Câmara e do Senado sugere colocar uma brecha na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) pavimentando o terreno para o adiamento da calamidade pública. A proposta enviada pelo governo não traz essa possibilidade, mas poderá ser alterada pelo Congresso (Estadão – p.B3).
O decreto em vigor fixou a calamidade até 31 de dezembro deste ano. Dessa forma, o governo não precisará cumprir a chamada regra de ouro – que o proíbe de se endividar para pagar despesas correntes – nem fazer bloqueios no Orçamento para atingir a chamada meta fiscal (atualmente, um limite para o rombo nas contas públicas). Um adiamento levaria o Executivo a gastar sem essa rigidez também em 2021. A calamidade pública só poderá ser adiada com outro decreto a pedido do governo. O que as consultorias sugerem é deixar a LDO pronta para esse cenário. De acordo com técnicos do Congresso, será preciso alterar o projeto deixando a hipótese de prorrogação em 2021 a depender do quadro da pandemia (Estadão – p.B3).
Uma das principais iniciativas do governo para aliviar efeitos da pandemia do coronavírus, o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda pagou até 17 de julho um terço do total previsto. Dos R$ 51,6 bilhões reservados em orçamento, R$ 16,5 bilhões (32%) foram efetivamente desembolsados para complementar os ganhos de quem teve contratos de trabalho suspensos ou os salários cortados, com redução de jornada. Os dados constam de auditoria do TCU, que considera baixa a execução dos recursos, tendo em vista principalmente que o programa foi criado em abril para ter "vigência de três meses", mas não havia consumido o grosso de sua verba em meados do terceiro mês (Folha).
O Brasil segue uma tendência mundial de aumento de dinheiro em circulação na economia depois da pandemia do coronavírus, com uma alta de 35% do volume de papel-moeda em poder do público no período de 12 meses até junho. Apesar dos receios de que a impressão de novas cédulas, como a de R$ 200, possa alimentar a inflação, especialistas dizem que isso não deve acontecer, desde que o Banco Central siga apenas atendendo de forma passiva a demanda por dinheiro da população. “A demanda por moeda sobe diante do aumento da incerteza”, afirma o economista José Júlio Senna, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV. “Com a pandemia, a incerteza atingiu o seu limite”, disse (Valor).
O BNDES vendeu ontem R$ 8,1 bilhões em ações da Vale. A operação foi realizada por meio de leilão na Bolsa de Valores e marca a retomada do processo de redução da carteira de ações do banco, uma das prioridades da gestão Gustavo Montezano. O valor total negociado em leilão foi de R$ 8,3 bilhões, segundo dados da B3. No leilão, realizado pela manhã, foram vendidas 135 milhões de ações da mineradora que estavam com o banco, o equivalente a 2,6% do capital total da companhia. Após a operação, o BNDES permanece com 3,7% do capital. Para evitar impactos nos preços, a instituição se comprometeu a não vender novas ações da empresa por um prazo de pelo menos 90 dias (Folha).
O Senado pautou para a sessão de amanhã um projeto de lei que limita a cobrança de juros no cheque especial e no cartão de crédito em 30% ao ano. Se aprovada, a proposta, apresentada este ano pelo senador Alvaro Dias (Podemos-PR), valerá para as dívidas contraídas entre março e dezembro de 2020. O projeto também proíbe os bancos de reduzirem, neste período, os limites de crédito que estavam disponíveis em 19 de março de 2020 – portanto, antes de a crise provocada pelo novo coronavírus se intensificar. Originalmente, o projeto limitava os juros a 20% ao ano, mas Dias ampliou o teto a 30% para conseguir mais apoio ao texto (Estadão – p.B4).
|
|